Curricularização?

No contexto de atualização e criação de projetos de curso com foco na extensão, um questionamento que aparece frequentemente nos debates é “por que curricularizar?”, por que inserir um percentual obrigatório de carga horária de extensão nos currículos de graduação.

Por que curricularizar a extensão?

O processo de adequação dos Projetos Pedagógicos de Curso para inserção do percentual exigido tem sido chamado, em algumas instituições de “creditação curricular” e, por outras, assim como no IFSC, de “curricularização”.

Esse processo de curricularização da extensão no IFSC, que foi deflagrado por iniciativa da Diretoria de Extensão (DIREX) pertencente à Pró-Reitoria de Extensão e Relações Externas (PROEX), no ano de 2015, é um processo que busca potencializar o envolvimento de estudantes em atividades curriculares institucionais. Esse envolvimento se dá com a orientação de servidores(as) do IFSC, focado na interação dialógica com os diversos setores da sociedade. Nesse sentido, implantar a extensão nos currículos significa afirmar que, em algum momento da vida acadêmica, o(a) estudante precisa se envolver com atividades de extensão relacionadas aos componentes curriculares do curso.

Essa demanda de adequação curricular é emergente no contexto de implantação e cumprimento do Plano Nacional de Educação – PNE e da resolução do Conselho Nacional de Educação – CNE, nº 07 de 2018, que aponta as diretrizes nacionais para a extensão. O PNE 2014 – 2024 apresenta vinte metas para a educação brasileira a serem cumpridas durante a vigência do plano. Dentre elas, destaca-se a meta 12, que tem como objetivo elevar a taxa bruta de matrículas na educação superior para cinquenta por cento e, para atingir a meta 12, são descritas vinte e uma estratégias, cabendo aqui ressaltar a estratégia 12.7 que indica que deve-se “assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinência social”.

A Resolução CNE nº 7/2018, apresenta as diretrizes nacionais para a Extensão na Educação Superior Brasileira e, também, uma regulamentação sobre o disposto na Meta 12.7 do PNE de 2014. Segue a definição de extensão que foi trazida pela resolução no art. 3º

A Extensão na Educação Superior Brasileira é a atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político educacional, cultural, científico, tecnológico, que promove a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa.

Para concretizar a curricularização da extensão, de acordo com o Fórum de Pró-Reitores de Extensão (2006), a construção e alteração dos currículos deve ser focada no impacto e transformação dos(as) discentes do curso a ser elaborado ou revisado:

O currículo passa a ser concebido como um processo não-linear e rotineiro, onde as disciplinas deixam de ser verdades acabadas a serem repassadas e transmitidas. Torna-se um espaço de produção coletiva e de ação crítica. Os conteúdos das disciplinas não são mais a “essência” de um curso, tornando-se referência para novas buscas, novas descobertas, novos questionamentos, oferecendo aos estudantes um sólido e crítico processo de formação. Quando a universidade utiliza tais possibilidades, efetiva-se a Flexibilização Curricular, na perspectiva de um currículo que rompe com a predominância de disciplinas, tendo a transdisciplinaridade como eixo de referência. (FORPROEX, 2006, p. 41-42).

Mas, o que é Currículo?

De acordo com o Projeto Pedagógico Institucional – PPI do IFSC,  “o currículo apresenta caráter político pedagógico e é um instrumento de compreensão do mundo, de transformação social, que viabiliza o processo ensino-aprendizagem.” (IFSC, 2014, p 23). Além disso, o currículo deve ser dinâmico e abrangente, apresentando o conjunto de intenções e ações a serem desenvolvidas. Seguindo esse entendimento, para Masetto (2011), o currículo é compreendido como:

Um conjunto de conhecimentos, saberes, competências, habilidades, experiências, vivências e valores organizados de forma integrada visando a formação de profissionais competentes e cidadãos, para uma sociedade contextualizada num determinado tempo e espaço histórico, político, econômico e social.” (MASETTO, 2011, p. 4).

Nessa mesma linha, de acordo com Veiga:

Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia de construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. Neste sentido, o currículo refere-se à organização do conhecimento escolar. ( 1998, p. 8).

No âmbito legal, o Parecer CNE/CES nº 67/2003, aprovado em 11 de março de 2003, que apresenta um referencial para as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação, indica que o currículo de um curso deve contemplar toda a sua organização, desde a carga horária total, perfil profissional do egresso, possibilidades de estágio, conteúdos curriculares, acompanhamento e avaliação, etc. Nesse entendimento, o currículo é traduzido como um documento, o PPC.

Veja no vídeo as principais legislações que tratam do tema e “porque curricularizar”.


Referências

FORPROEX. Carta de Porto Alegre. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. 2006. Disponível em: <http://www.uemg.br/downloads/indissociabilidade_ensino_pesquisa_extensao.pdf> Acesso em: 27 de abr. 2019
MASETTO, M. T. Inovação Curricular No Ensino Superior in Revista e-curriculum, São Paulo, v.7 n.2 AGOSTO 2011 Disponível em < https://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum/article/view/6852/4966> acesso em 23 de jun. 2019.
VEIGA, I. P. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, Ilma Passos da (org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1998. p.11-35.